quinta-feira, 21 de maio de 2009

Obsessividade Intermitente | 2

logo-obsessividadeEspeculativa4De que se faz a música, música? Como distinguimos nós a banda que “está a começar”, da banda que “já começou”? No mundo profissional um indivíduo adquire experiência e desenvolve a sua capacidade de fazer um bom trabalho. Na arte requer-se que haja um talento inerente ao trabalho que se faz. Quando sabemos que critério nos permite gerir e distinguir as bandas a sério das que ainda não são a sério? Que critério permite?

Eu acredito, piamente, que há um momento qualquer, na vida de um colectivo de músicos, no qual todos estão seguros e crentes de que são uma coisa boa, bem feita e que tem interesse para quem os possa ouvir. E confiança gera mais confiança, auto-estima gera mais auto-estima. Senão como se compreenderia o sucesso de uns Oasis? Como se compreenderia e se idolatraria os actos dementes de Amy Whinehouse? Certo está que não agrada a todos e que os há puristas e críticos, com todo o direito. Tal como se costuma dizer, os gostos não se discutem. Mas isto são as nossas telenovelas diárias, em frente ao computador a espreitar para dentro da vida de toda a gente. Posso-vos garantir que se forem aos bares, ver as bandas ao vivo e gostarem do que estão a ver e abanarem o vosso corpo em concordância, coisas bastante interessantes acontecerão.

Nós, por aqui, preferimos queima das fitas e copos académicos, com contornos de praxe e exercício de poder. Pode até ir o Pete Doherty tocar e ganhar 40 000 dólares e ninguém o questionar, mesmo quando vem de guitarra e toca para uma multidão embriagada, sedenta de festa e de dançar. Mas eu não estive lá e com certeza muita gente deve ter gostado. Só me fazem confusão os 40 000 dólares. Mas acho que é assim que se paga lá, num evento que está sempre a abarrotar de gente independentemente das bandas que se ponha a tocar. Dá que pensar mais um bocadinho, dá, até porque as cidades param para a queima das fitas.

Relendo o que acima já foi vejo que poderá criar susceptibilidade a referencia a Oasis, à Amy Whinehouse e ao Pete Doherty, mas não se confundam, sou fã de todos e de Babyshambles e de Libertines. Sou fã das birras intermináveis dos irmãos e da forma como eles, sem qualquer pudor, são o que são sem sequer se preocuparem com isso. Mas a mim é isso que me aperta, a dificuldade que todos temos de ser aquilo que somos. Se calhar é por isto que tanto admiro os movimentos underground e o do it yourself, sinceramente, há outra maneira?

Esta semana, e após meses de insistência, finalmente apaixonei-me pelos Gallows.

Bandas com elevado grau de sinceridade requerem-se, urgente. Chamem as editoras e as pessoas que querem trabalhar nisto. Elas também existem fora da rádio e das luzes da ribalta.

Davide Lobão | www.myspace.com/chemicalwire

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