sexta-feira, 17 de julho de 2009

HISTÓRIAS DO ROCK NACIONAL | 1

 

HISTÓRIAS DO ROCK NACIONAL

Por: Aristides Duarte

CENAS DOS PESTE & SIDA

O Agente totó

Há um episódio hilariante, passado no distrito da Guarda, de que nunca mais nos vamos esquecer: estávamos já em momento de festa e descontracção no camarim, depois duma das primeiras actuações que tínhamos feito com os novos sistemas emissor/receptor para guitarras. Aquilo para nós era um motivo de orgulho, um avanço tecnológico porreiro. Mas nisto somos confrontados com o agente que tinha comprado o espectáculo e que se negava a pagar o “cachet”. Porquê? – Porque tínhamos sido contratados para actuar ao vivo e não para fazer “playback”! Levámos mais de meia hora a explicar que, apesar de não haver cabos ligados das guitarras aos amplificadores, tínhamos tocado realmente. Mas mesmo assim, a única maneira de convencer este agente foi pedindo ao saudoso Luís Santos, nosso primeiro “roadie”, que tirasse um amplificador, uma guitarra e um sistema “wireless” da carrinha e que os voltasse a montar. Qual não foi o espanto do senhor quando, por suas próprias mãos, pode confirmar que não estávamos a mentir. E o quanto nos rimos à socapa a presenciar aquele totó, maravilhado com aquilo enquanto passava os dedos pela guitarra e ouvia o som a ser debitado à distância pelo amplificador, repetindo com os olhos esbugalhados: - Oh carago! Que coisas do carago!

Outros tempos!!!

O disco de homenagem a Zeca Afonso

A participação dos Peste & Sida no disco “Filhos da Madrugada”, homenagem a Zeca Afonso tem uma história por trás que também nunca foi contada: é incrível que os Peste & Sida só tenham sido convidados para entrar nessa colectânea à última hora, depois dos Rádio Macau desistirem. Já tínhamos registado uma versão de “A Morte Saiu à Rua” do Zeca, versão essa que incluíamos nos alinhamentos dos nossos espectáculos, com o intuito de divulgar a importância do Zeca e da sua obra às novas gerações e seria natural que se tivessem lembrado de nós mais atempadamente. Na minha opinião, essa triste situação foi da inteira responsabilidade do nosso “management” da altura, a União Lisboa, do Tó Cunha, que não me deixa saudades nenhumas. Nunca percebeu ou nunca quis perceber a verdadeira essência dos Peste & Sida (talvez por estar nos antípodas da mensagem de intervenção política que sempre fizemos questão de manter). Penso até que esse agente foi determinante na desestabilização dos Peste quando a ganância pelo dinheiro fácil falou mais alto e o filão que prometia explorar um projecto paralelo tão inócuo e trivial como os Despe lhe era muito mais cómodo. Mas a verdade é que demos a volta por cima – apesar de termos feito uma escolha muito condicionada, (porque já todas as bandas tinham apresentado os temas mais populares do Zeca para adaptar) e “O Homem da Gaita” acabou por revelar o lado lúdico e divertido do Zeca. Depois do enorme sucesso com que fomos presenteados pelo público no antigo Estádio José Alvalade, onde se realizou o espectáculo referente a essa colectânea, apesar  das declarações ambíguas de alguns artistas bastante influentes e que, por serem quem eram, foram escolhidos para promoverem a colectânea, não perdendo a oportunidade de terem mais exposição mediática (e que não se querendo comprometer explicavam que tinha alinhado só porque o Zeca tinha uma maneira muito interessante de cantar a nossa língua, mas que não conheciam sequer a sua obra aprofundadamente) não me arrependo de ter participado com os Peste & Sida nesse trabalho. Mas, também por isso, compreendo a posição dos Rádio Macau (que como os Peste, desde cedo alinharam em tocar e divulgar o Zeca, chegando mesmo a gravar uma adaptação de “Paz, Poetas e Pombas”) em se afastar deste projecto.

Depoimento de João San Payo recolhido por Aristides Duarte

Aristides Duarte | www.rockemportugal.blogspot.com

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