terça-feira, 20 de março de 2007

Na Grafonola do Marsupilami com os Madcab

Desde a primeira vez que os ouvi, que fiquei viciado no som dos Madcab. Para mim é uma das melhores bandas actuais da cena rock alternativo portuguesa, e não só. Fiquei com curiosidade para saber um pouco mais sobre, e o que vai na mente dos Madcab. Decidi fazer-lhes essas perguntas, e eles simpaticamente aceitaram. Luís Silva, vocalista e guitarrista, e Luís Costa, baterista, deram a voz aos Madcab...

Antes de mais, obrigado aos Madcab, por aceitarem responder a algumas perguntas que vos queria fazer. Obrigado.

Marsupilami (M) - Pelo que sei, os Madcab formaram-se em 2001. Qual era o objectivo dos Madcab nessa altura?

Luís Silva (LS) - O nosso objectivo era fazer música, tocar ao vivo, mostrar os temas e ir, lentamente, chegando a mais pessoas. Penso que foi isso que aconteceu. E a vontade mantém-se.

Luís Costa (LC) - Eu nunca pensei muito longe, simplesmente queria-me divertir e fazer qualquer coisa que quebrasse a monotonia da rotina do dia-a-dia. 6 anos depois, os objectivos mantêm-se.

M - Após cinco anos, ou seja em 2006, deram o vosso passo (talvez) mais importante até á data, que foi a gravação do vosso álbum de estreia. Foi algo que surgiu com naturalidade, ou era algo que já vinha a ser pensado?

LS - Foi algo que surgiu com alguma naturalidade. Chegou uma altura em que pensámos: "Bom, é isto, estamos a soar ao que queremos, temos estas músicas que nos agradam e, quanto mais não seja, vamos querer guardá-las, bem gravadas, para nós". E foi isso que aconteceu. Depois sim, tivemos de pensar nas melhores alternativas para a gravação.

M - O lançamento do vosso álbum, fizeram-no através da net, colocando-o disponível para download, grátis, e para quem o quiser ter. A ideia não é nova, no entanto no nosso país, ainda é muito raro acontecer isso. Porque o fizeram dessa forma?

LS - Como dizes, a ideia não é nova. Há várias razões que o justificam, apesar de, realmente, parecer estranho. Uma das que nos parece mais lógica é que queremos dar aos fãs aquilo que esperamos das bandas que gostamos. Nós pensamos que as pessoas devem poder ouvir, calmamente, antes de decidirem se querem mesmo ter aquele CD ou não. E acreditamos que as pessoas que gostam da nossa música vão querer ficar com um registo físico dela (que depois vendemos a um preço simbólico dado que é uma edição caseira), mesmo depois de terem os MP3s. É assim que eu quero as coisas para mim. E, já agora, se o álbum se ia espalhar de qualquer das maneiras pela Internet, porque não sermos nós a oferecer as músicas?

LC - Verdade seja dita que também não tivemos grande alternativa, visto que todos os contactos que fizemos com editoras e distribuidoras se revelaram infrutíferos… foi mais uma questão de tirar o melhor proveito de uma situação que seria - à primeira vista - menos boa. Como felizmente não dependemos financeiramente da banda para sobreviver, podemos dar-nos ao luxo de oferecer o álbum e chegar a muito mais pessoas do que alguma vez chegaríamos pelas vias tradicionais.

M - O vosso álbum soa-me bastante coeso, maduro. Contaram apenas com vossa ajuda e amigos, ou tiveram ajuda da parte de alguém que já anda nisto há algum tempo?

LS - Contámos apenas com dias e dias a preparar o álbum (inclusive fizemos uma sessão de gravação com um amigo dos Drifter) para chegar ao estúdio e fazer tudo ao primeiro ou segundo take. Como sabes, foi edição de autor e o tempo estava contado. Qualquer desleixo da nossa parte ia sair caro. E depois, contámos com a ajuda do Fernando Matias, o produtor, que ia sugerindo alguns arranjos no período em que estivemos em estúdio.

LC - Acho que essa coesão de que falas é o resultado natural de 6 anos de existência como banda. Gravámos 3 demos ao longo desse tempo, e parecendo que não acaba por se ganhar alguma experiência de cada vez que se repete o processo. Pessoalmente, não sou apologista de se formar uma banda e gravar um disco logo nos primeiros meses, porque acho que é preciso algum tempo para se procurar uma identidade e para a consolidar.

M - Qual a vossa opinião relativamente aos programas P2P e consequente pirataria/partilha via net que se vive hoje em dia? Na vossa opinião, poderá ajudar ou prejudicar uma banda como os Madcab?

LS - O que eu te digo é que nasceu daí, de uma discussão de ideias com um amigo (Pedro Moreira) sobre essa temática, a nossa vontade de legalizar o nosso álbum: "Olha, isto não é proibido, podem copiar, passar, mostrar ao amigo… Está lá para download". O que eu acho é que acontecem duas coisas: acho que muito pouca gente compra um álbum por causa de uma só música (pelo menos no meio em que nos movimentamos, mais refundido) e que, ao teres o álbum em partilha, aumenta a especulação sobre o teu projecto.

LC - É uma questão demasiado complexa para se responder em poucas linhas, mas penso que para uma banda como nós, que não tem nenhuma legião de fãs nem qualquer tipo de “nome” no mercado, só pode ser positivo na medida em que é a maneira mais fácil de chegar a um grande número de pessoas e de divulgar o nome rapidamente. É claro que, como referi anteriormente, só nos podemos dar a este luxo porque não dependemos financeiramente disto, para uma banda ou músico que viva do seu trabalho, torna-se mais complicado.

M - Acham que existe um circuito de locais (bares, festivais, etc), para que uma banda se posso mostrar no nosso país?

LS - Se estás falar de uma tour, devidamente organizada, financiada e divulgada, eu penso que não. Há sítios com condições, algumas pessoas a mexerem-se, a quererem conhecer música nova. Para viver disto, penso que não, penso que ainda não é suficiente. Mas ao mesmo tempo, acho que nunca se ouviu falar tanto de música feita em Portugal e de tantos eventos. Também é preciso que as bandas saibam escolher os locais. Não é interessante dar 50 concertos maus.

M - Que falta mudar, ou que falta fazer para que haja mais condições no nosso país, quer na música, quer em tudo o resto?

LS - Não te sei dizer. Parece-me que todos temos de nos mexer um pouco mais para que as coisas funcionem como esperamos. Mais divulgação, mais bandas a tocarem juntas, que algumas casas compreendam que as bandas não podem estar sempre a pagar as suas deslocações. Mas sobretudo, penso eu, algum esforço para tomar as decisões acertadas.

M - E agora, que objectivos os Madcab têm neste momento? Ou melhor, que podemos esperar dos Madcab?

LS - Agora queremos andar por aí a descobrir se o país tem ou não capacidade para uma digressãozinha (risos). Queremos tocar estas músicas ao vivo, sobretudo. Ver a reacção das pessoas. Para já, virtualmente, está para além das nossas expectativas. E depois recolhermos ao nosso estúdio para trabalhar no novo material que temos. Para além disso, todos temos os nossos projectos paralelos nos quais estamos a trabalhar e dos quais também surgirão novidades.

LC - Continuarmos a fazer algo de que nos orgulhemos, e continuarmos sempre a forçar os nossos próprios limites para ver o que acontece. (riso)

Curiosidades:

M - Porquê o nome Madcab?

LS - Essa é a pergunta mais indelicada. (risos) Simplesmente gostámos desse nome na altura e não achámos que um nome pudesse impedir as pessoas de ouvir o que fazemos.

LC - Esse nome estava numa lista que eu fiz com vários nomes possíveis, e penso que surgiu de uma linha de pensamento de que as bandas são o veículo que transporta o ouvinte numa viagem emocional… pode parecer que andava a fumar muita droga na altura mas não, tinha simplesmente muito tempo livre entre mãos. (risos) Mas acabámos por escolher esse porque nos soava bem e era fácil de pronunciar, não por qualquer razão metafísica transcendente.

M - A formação foi sempre a mesma desde o ínicio?

LS - formação inicial, curiosamente, juntou-se novamente na última semana. No entanto, e não sei porquê, só os baixistas foram diferentes.

M - Influências?

LS - As mais variadas mas lembro-me de Oceansize, At The Drive-In, A Perfect Circle, Circa Survive, Trail of Dead...

LC - Tudo. Há muito poucos estilos musicais dos quais não consiga apreciar pelo menos uma ou outra música, mas a minha preferência vai para o rock alternativo, ambiental e jazz.

Informações sobre os Madcab:

O álbum de estreia dos Madcab, "Keeping Wounds Open", está todo ele disponível para download aqui:

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