A ainda curta vida dos Linda Martini, tem sido um conto de fadas. Que podiam querer mais, quando são aqueles que os ouvem que os aclamam, e pedem que não parem de tocar? Com os Linda Martini, aconteceu precisamente isso. Depois de gravarem uma maqueta em 2005 e a disponibilizarem na net, as pessoas foram-se chegando mais perto, e aclamaram os Linda Martini. Em 2006, lançam o seu álbum de estreia "Olhos de Mongol", e as espectativas confirmam-se. Os Linda Martini são grandes, e "Olhos de Mongol" é um grande álbum! O Marsupilami falou com eles...
Antes de mais, obrigado aos Linda Martini, por aceitarem responder a algumas perguntas que vos queria fazer. Obrigado.
Marsupilami (M) - Os Linda Martini nasceram quando? E para além da "urgência punk e o espírito faz tu mesmo", que mais queriam os Linda Martini na altura?
Linda Martini (LM) - Os Linda Martini nasceram por volta de 2003. Começaram por ser um projecto paralelo de uma banda de hard-core chamada Shoal, daí a "urgência punk e o espírito faz tu mesmo". Na altura queríamos simplesmente fazer música diferente da que havíamos feito até então. No entanto, acho que as premissas se mantêm as mesmas. Não queremos fazer outro "olhos de mongol", por exemplo. A ideia é colocar novas metas e a próxima é conseguirmos fazer qualquer coisa diferente dentro do universo Linda Martini.
M - Depois de inúmeros concertos, uma maqueta e um álbum, essa "urgência punk e o espírito faz tu mesmo" ainda existe nos Linda Martini?
LM - Ups! Acho que nos adiantámos a esta pergunta. Mas sim, continuamos a vender as nossas próprias t-shirts, cds e pins nos concertos e estamos sempre 100% envolvidos em tudo o que diga respeito à banda. Temos pessoas a ajudar, é certo, mas estamos sempre envolvidos em tudo.
M - Onde vão os Linda Martini buscar a inspiração e a imaginação para o vosso som, as vossas músicas? Têm alguma fórmula, ou apenas deixam-se levar?
LM - Deixamo-nos levar. As músicas vão-se construindo aos poucos, chegando mesmo a ter épocas de estaleiro até aparecer uma ideia nova para as acabar. Dentro da banda e mesmo dentro de cada um, há influências díspares. Todos ouvem um pouco de tudo. Isto claro, falando a nível musical. A nível literário, há mais consenso. No álbum, por exemplo, há influências desde Henry Miller até José Mário Branco, passando por Joaquim pessoa. Tentamos absorver tudo o que nos atinge e depois filtrar o que gostamos realmente. Às vezes são simples frases que aparecem escritas nas paredes das ruas, declarações de crianças, etc.
M - O cantar em português, é algo que assumiram como "deve ser assim e mais nada", ou simplesmente surgiu?
LM - Foi algo que surgiu. Não foi um golpe de estado dentro da banda. O português não tomou o poder do inglês à força. Foi mais uma ascensão política normal. A ideia foi aparecendo e às tantas tomou-se a decisão final de se adoptar o português como forma verbal de expressão. É-nos mais fácil expressarmo-nos na nossa língua mãe. Não temos que fazer uma tradução daquilo em que estamos a pensar. Simplesmente sai.
M - Sentiram dificuldades em divulgar o vosso trabalho? E como o têm feito?
LM - Sinceramente, não. Felizmente as pessoas sempre foram chegando ao nosso encontro. A coisa espalhou-se de uma forma que não esperávamos e por isso ficámos um pouco surpreendidos com a maneira como tudo se desenvolveu. Às vezes as coisas chegam muito rápido e ficamos um pouco sem saber o que retirar delas. Precisamos de tempo para avaliar com calma e degustar o que realmente chegou com elas. Muitas vezes, como são demasiado rápidas, acabamos por nem desfrutar delas, mas com o tempo vamo-nos ambientando a essa realidade. Em relação à divulgação da nossa parte, tem-se limitado àquilo que realmente é importante que é a música, neste caso com as apresentações ao vivo.
M - Sentem que a net é um aliado poderoso nesse campo?
LM - Sim, mas cada vez mais as coisas tendem a diluir-se. Há tanta, mas tanta informação na net, que é difícil filtrar. Às tantas as pessoas já nem têm paciência para procurar ou sequer aceitar aquilo que lhes chega. No entanto, foi a partir da disponibilização da nossa maquete de estreia e do myspace que as coisas começaram a tomar forma. Se calhar tivemos sorte e chegámos numa altura em que as coisas ainda não tinham entupido.
M - Qual a vossa opinião relativamente aos programas P2P e consequente pirataria/partilha via net que se vive hoje em dia? Na vossa opinião, poderá ajudar ou prejudicar uma banda como os Linda Martini?
LM - Como foi dito acima, fomos nós próprios a aproveitarmo-nos da net para promoção, por isso não nos choca ver as nossas músicas online. É claro que percebemos o ponto de vista das editoras, mas por outro lado, até que ponto a divulgação via-net é benéfica ou maléfica para a venda de cds? Se por um lado há quem deixe de comprar porque ficou desiludido, por outro, há quem nunca tivesse acesso se não fosse a web e acabe por depois comprar. Acho que tínhamos aqui tema para uma tese com posterior edição de uns 20 volumes.
M - Que falta mudar, ou que falta fazer para que haja mais condições no nosso país, quer na música (se acham que falta alguma coisa), quer em tudo o resto?
LM - Faltam salas médias decentes, mais promotores decentes, interesse por parte do público em geral, respeito pelos artistas(muitas vezes), cds reconhecidos como produto cultural, etc. Falta um pouco de tudo. Somos ainda um país muito atrasado no que diz respeito ao assunto. Só aos poucos os músicos vão deixando de ser vistos como preguiçosos que não quiseram ir trabalhar. Mas isso acontece até com as belas artes, por isso, é algo que está presente na nossa mentalidade enquanto um todo.
M - Quais os objectivos do momento dos Linda Martini? Que podemos esperar dos mais de vocês?
LM - Neste momento estamos em estúdio a compor para o 3 pistas da antena 3 e em seguida vamos começar a compor para um possível vinyl com quatro faixas novas. Entretanto vamos fazendo as nossas aparições ao vivo.
M - Para terminar, gostam de bolas de berlim?
LM - Não!
Curiosidades:
M - Porquê o nome Linda Martini?
LM - Estávamos sem soluções, mas felizmente uma amiga italiana do Pedro, veio fazer erasmus para Portugal e ele apareceu com esse nome. É o nome dessa amiga.
M - A formação foi sempre a mesma desde o início?
LM - Sim. Enquanto linda martini sempre tivemos a mesma formação. Nem menos, nem mais, nem outros.
M - Influências?
LM - Sinceramente, um pouco de tudo.
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