quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Na Grafonola do Marsupilami | Uni.Form

Para além do principal, a música, há outra coisa que dou especial importância numa banda: a atitude. Uma banda pode ter um grande som, mas se lhe faltar atitude, é como um corpo sem alma. E atenção, não falo da imagem, tão importante hoje em dia, falo na atitude mesmo, na atitude que se tem perante as coisas que nos rodeiam, na atitude em fazer apaixonadamente aquilo que se gosta de fazer, independentemente se as pessoas vão gostar ou não. Neste caso concreto, eles já deram provas de que têm tudo isso, têm um grande som e a atitude certa. E, por isso mesmo, estive à conversa com o Nuno, perdão xboy, baterista dos Lisboetas Uni-Form.

Uni_form Antes de mais, quem são os Uni.Form?

Somos quatro, da zona de Lisboa, David (umbigu) no baixo, eu, Nuno (xboy), na bateria, Pedro (thecode) na guitarra e sintetizadores e Billy (voxmachina) na guitarra e voz.

Podes nos contar como esta aventura começou, e qual era o objectivo na altura?

Começámos em 2006, eu e o meu irmão David, estávamos na altura a esboçar um projecto e procurávamos um vocalista/guitarrista para completar o mesmo. Através de jornais, emails e alguns websites conseguimos contactar o Billy e logo quase de imediato houve o “click” e as coisas começaram logo de inicio a funcionar muito bem. Mais tarde começámos a precisar de mais um elemento para a guitarra e sintetizadores/teclados, começava-se a tornar “pesado” para nós ter de lidar com isso tudo, principalmente em palco; como tal surge um amigo nosso, Pedro que muito bem complementa os Uni.Form na guitarra, teclados e sintetizadores.

O objectivo era, e continua a ser, a diversão; criar bons momentos e, pelo menos, tentar criar arte, se bem que isso seja muito difícil de alcançar, mas é um objectivo importante que temos sempre presente. Com isto os nosso ensaios e concertos tornam-se em momentos de explosões de adrenalina, paz e por vezes momentos de fúria também.

Lançaram o vosso EP de estreia este ano, como tem sido a reacção das pessoas?

Lançámos o nosso EP em formato edição de autor a 07.07.08, com a opção de download gratuito no site oficial da banda uniformproject.com. A edição física saiu um pouco mais tarde, pois foi feita por nós integralmente; com a ajuda de uma amiga designer gráfica MIA (Maria), que trabalha a nossa imagem, a todos os níveis, desde o logótipo até aos fatos que usamos em concerto, e mesmo com a preciosa ajuda dela as coisas atrasaram, e pedimos desculpa a todos os pedidos que ainda não foram satisfeitos por algum motivo.

As pessoas têm uma reacção muito engraçada em relação ao EP. Até agora temos tido reacções muito positivas por parte das pessoas que já o ouviram, e tem sido bom, porque cada pessoa chama-lhe um estilo diferente e gosta por diferentes razões, pelas suas razões, e isto para nós é talvez o melhor elogio, pois normalmente existem rótulos que facilmente se aplicam e isso não tem acontecido, penso que seja significado de que pelo menos estamos a tentar criar algo novo sem nome, ou pelo menos difícil de classificar, e pelos vistos parece que estamos no bom caminho. Claro que as influências estão sempre inevitavelmente presentes, mas tentamos estar atentos a isso.

Também de salientar a boa reacção que temos tido da parte dos diferentes média, tanto na rádio como na televisão e na web, surpreendentemente temos tido reacções boas de todo lado; admito que não estávamos à espera de tanto, mas temos conhecido pessoas nestes meios que realmente estão interessados em novos projectos portugueses, e isso também tem sido muito bom.

Que querem transmitir com a vossa música, o vosso som?

Definir um sentimento como o de criar música, é sempre muito complicado, mas talvez o que tentamos transmitir, será um misto de amor/ódio ou amargo/açucarado. No início, as músicas podem ser explosões massivas ou massagens relaxantes, e depois facilmente se podem transformar no seu inverso. Muita da essência da banda está nos extremos, nos opostos que se atraem. No fundo tentamos transmitir algo que nós próprios andamos à procura brincando com os extremos, ou seja, a música acaba por ser um reflexo de nós enquanto indivíduos, e claro está que o mundo não é somente preto e branco; num único indivíduo podem existir sentimentos completamente opostos e se multiplicarmos por quatro então a criação torna-se algo muito interessante e bastante diversificada. No fundo tentamos ser abertos ao que vem de dentro de nós, e acabamos por transmiti-los para os outros.

E onde se inspiram os Uni.Form?

Na vida sobretudo, na existência, nos sonhos, nos pesadelos, basicamente em tudo o que nos rodeia; não escolhemos o que nos vai inspirar, simplesmente algo nos toca e acabamos por transformar esse sentimento em música. Tudo desde a literatura, cinema, teatro, tv, especialmente a de má qualidade, as pessoas que passeiam pela rua, o Sr. que vende o “borda d’água” (sim é mesmo verdade), a hora de ponta, tudo nos inspira.

Uni_formEncontram-se agora na fase de divulgação. Estão a sentir dificuldades nesse campo?

Alguma dificuldade sim, em Portugal nada é fácil de concretizar (mas também não é impossível), nem mesmo dar uma simples resposta como um não ou um sim. Mas por um lado é bom, faz-nos trabalhar mais para chegar a mais pessoas. A internet foi um passo de gigante, mas temos muitas vezes de estar no lugar certo à hora certa, fazer o tal “click” nesta ou naquela pessoa, e é claro que ainda nos falta um longo caminho, mas algumas portas já se começam a abrir, outras fecham-se, mas o que nos derruba, faz-nos também levantar e seguir em frente com ainda mais força e vontade. Mas é como disse anteriormente, tenho de salientar que temos conhecido pessoas excelentes pelo caminho.

A net tem cada vez mais um papel preponderante ao nível da divulgação, talvez até excessiva. Qual é a vossa opinião em relação à net vs música?

“Internet killed the video star..” (?) A net e música, a música e a net. Já não se consegue separar uma coisa da outra, não é? O que seria inevitável, pois é um instrumento imprescindível na divulgação hoje em dia, e não só. Não penso que se torne excessivo, porque cada um de nós pode escolher, exactamente aquilo que quer ver, ouvir; se calhar a dificuldade reside em se decidir o que se quer ouvir. Também nos permite fazer algo que não era possível antes, pelo menos à mesma dimensão; como por exemplo disponibilizar o nosso EP para download gratuitamente através do nosso site e assim conseguir que muitas pessoas tenham acesso a ele para poderem ouvir e talvez se gostarem apareçam nos concertos e talvez até queiram comprar a edição física.

Portanto 100% a favor de todo o movimento de divulgação que anda a acontecer, principalmente em Portugal, através da internet. Temos descoberto grandes bandas assim.

Em relação a espaços e iniciativas para uma banda como os Uni.Form se apresentar ao vivo, acham que existem, quer em quantidade quer em qualidade no nosso país?

Embora em Portugal se viva a “vida do coitadinho” : “não temos isto, não temos aquilo”, isso não é verdade... Os espaços existem, alguns muito bons, outros maus, mas é como tudo, talvez possam ter uma melhor exploração, mas existem... Se calhar a atitude de quem está à frente deles não é a melhor, mas resta-nos lutar para conseguir chegar lá.

As iniciativas têm vindo a aumentar cada vez mais, quase parece que estamos a voltar ao tempo em que havia concertos quase todos os dias, mas há espaço para muito mais. Mais do que espaços ou iniciativas, temos é de começar a sair de casa, ir ver concertos, deixar a televisão um pouco e ver o que se passa realmente.

Qual a vossa opinião em relação ao panorama musical português?

Bom, pelo menos no que diz respeito a bandas novas e a surgir, temos tido muitas surpresas agradáveis nos últimos tempos, muito graças à internet. Atrevo-me a dizer que temos talvez milhares de bandas recentes em Portugal (?), posso estar a exagerar um pouco, mas o facto é que o futuro (pelo menos neste momento) parece muito mais atraente e com muita mais variedade musical portuguesa. É bom, e penso que as pessoas, principalmente a camada jovem, começa a ver essa realidade, começa a ver que se calhar até temos boa música feita em Portugal para além dos três ou quatro nomes que dominam a praça.

Mas, no entanto, a mudança requer que as corporações também se adaptem, as editoras, as promotoras, etc. Fala-se agora muitos nos anos 80, mas não nos podemos esquecer que toda essa explosão cultural mais tarde se desvaneceu e deu lugar aos tais três/quatro nomes dominantes da praça actualmente. Portanto vamos aproveitar o momento, vamos viver esta nova explosão enquanto dura.

E, em relação ao estado geral do país?

Eu penso que o estado geral do país não é muito negativo, é certo que tem havido cada vez mais dificuldades, mais inflação, mais pessoas a dever dinheiro, também é certo que o poder governamental não é muito bom, a corrupção continua a crescer e as pessoas de boca fechada perante todo este tipo de situações. No entanto, ao mesmo tempo é um país pelo qual vale a pena lutar contra o que está mal, vale a pena falar sobre o que está mal. Penso que deveria haver mais pessoas a falar e a discutir sobre o estado do país, porque é a falar e a discutir que nascem ideias e novos ideais.

Toda a gente tem um bocado a mania de dizer que lá fora é que é bom, mas o facto é que temos um país bonito. Claro que qualquer um de nós pode ganhar mais dinheiro em Inglaterra, por exemplo, mas também se fica mais velho mais depressa por lá, será que queremos mesmo viver para ganhar dinheiro só?

Uni_form E agora, quais os próximos passos dos Uni-Form?

Tocar, tocar... tocar, tocar... é o que nos dá mais prazer, também divulgar o nome e a nossa música o mais possível, ir lá fora... Pois, lá fora as coisas parecem diferentes, parecem mais possíveis e claro, teremos certamente mais pessoas para “atingir”, e claro que também queremos viajar, conhecer.

Depois, um álbum claro, pegar nas músicas que temos feito recentemente que já começam a exceder um álbum, e apresentar um álbum de Uni.Form.

Última pergunta: qual é a vossa personagem preferida de banda desenhada?

Talvez o Batman.

Curiosidades:

Como surgiu o nome Uni-Form?

O nome surge ao falar em forma, única, união, força interior; chegámos então naturalmente ao “uni.form”.

Um concerto (vosso), que de alguma forma vos tenha marcado?

Termómetro 2008, um local muito bonito, ”Tertúlia Castalense” na Maia, mas um dia para esquecer, nós não gostamos particularmente de concursos, mas infelizmente o David tinha-nos inscrito e acabámos por ir, até porque já estávamos no Porto na noite anterior para outro concerto.

Chegámos para tocar e surpresa.: ”têm de tocar 3 músicas e uma versão”. Pensámos em tocar a versão dos The Cure, “Plainsong”, mas estávamos a ser tão mal tratados que decidimos tocar quatro músicas nossas, sendo que a última música foi apresentada como uma versão dos “Caroliner” (not), sendo na realidade outra música nossa, mas ninguém percebeu. Marcou-nos este concerto porque ao mesmo tempo que não nos estávamos a sentir muito bem ali, não conseguíamos parar de rir também quando nos entrevistavam e perguntavam algo do tipo: “Então e porquê uma cover dos Carloliner?”

Influências?

Clan of Xymox, The Cure, Depeche Mode, Cabaret Voltaire, The Residentes, Tool, A Perfect Circle, Nine Inch Nails, Pink Floyd, Throbbing Gristle... Tantas mais e tão variadas.

Bandas nacionais que têm ouvido?

O que anda neste momento a passar por aqui é: You Should Go Ahead, Million Dollar Lips, Slimmy, Peixe:Avião, Dapunksportiv, Blasted Mechanism, Rejects United, Ornatos Violeta, Kubik, Mão Morta, X-Wife, Deadboy, etc...

Fotos por Rita Carmo

Myspace dos Uni.Form

Sítio dos Uni.Form

(Esta entrevista é da autoria do Marsupilami para a edição nº3 da webzine HEADZUM.ORG)

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