quarta-feira, 28 de maio de 2008

Na Grafonola do Marsupilami | UMEED

De Viseu chegam-nos os UMEED, uma banda de rock puro e forte. A música é uma das formas que encontraram para transmitir aquilo que sentem, mas não a única, porque acham que música não deve ser apenas ouvida, mas também sentida. O álbum de estreia "Hustle & Bustle", editado em 2007, foi uma prova de como a música pode viver junto de outras formas de arte e ganhar com isso. O Marsupilami quis saber os novos planos destes senhores, e esteve à conversa com o Pedro Peles, vocalista e guitarrista da banda, numa esplanada da cidade do Porto. A conversa, já sabem, podem lê-la, duas linhas abaixo.

Antes de mais, obrigado aos UMEED e em particular ao Pedro Peles, por aceitarem responder a algumas perguntas que vos queria fazer.

Photo1 by Zé Loureiro & Hugo Marques Quando e como é que tudo começou?

Nós começamos em Fevereiro de 2001, pela vontade do baterista, o Silvério, em juntar uma série de músicos que ele já conhecia de outros projectos, e de criar uma banda onde se criasse um ritmo de trabalho. Anteriormente, tivemos vários projectos de originais que nunca foram por diversos motivos. Então, o Silvério juntou uma série de pessoas que ele conhecia, e que ele achava que tinham perfil para o projecto que ele já idealizara há algum tempo, e foi então que começámos a tocar juntos. Dessa formação inicial apenas eu e ele nos mantivemos juntos, e como deves imaginar, isto das bandas é tudo muito complicado, porque envolve muita coisa que não tem retorno. Este projecto tem sete anos, e se formos falar em termos financeiros… nem vale a pena porque entramos em depressão. Em termos de esforço pessoal, muitas vezes sentes que as pessoas não valorizam o teu trabalho e a dificuldade que tens em arranjar locais para tocar é desesperante. De início definimos uma linha de trabalho que queríamos que fosse amadurecendo. Não queríamos colar-nos a nada, e passámos por uma fase onde tivemos uma série de vocalistas diferentes. Eu não fui o vocalista desde o início, sempre toquei guitarra, mas ao fim de nove vocalistas…. O baterista já me tinha dito para eu cantar, na altura não achei uma grande ideia, mas acabou por ser a melhor solução. É aquela coisa: se tu sabes como queres, porque é que não fazes tu? Entretanto inscrevi-me em aulas de canto, com uma professora de ópera romena, e comecei a ter alguma formação, a nível da respiração, etc. É um bocado desesperante no início, porque estás muito tempo à espera que te ensinem a cantar, e estás ali três, quatro meses a aprender a respirar. (risos) E, no fundo, tudo começou assim. Fomos evoluindo, depois gravámos 12 temas num estúdio em Viseu com o vocalista anterior, mas achámos que aquilo estava muito fraquinho. Não conseguimos transmitir em estúdio aquilo que nós éramos realmente. Em 2004, gravámos pela primeira vez comigo na voz, aqui no Porto no estúdio do Rodolfo Cardoso, que também nos produziu o trabalho e com o qual ficámos bastante mais agradados. A partir daí começámos a promover esse trabalho, começámos a envolver-nos naquele circuito que todas as bandas se envolvem, que são os festivais de música moderna, e ainda ganhámos alguns.

Que concurso ganharam já agora, e que vos trouxe de interessante?

Ganhámos o Festival de Música Moderna de Corroios, em 2005, e acabámos por chegar à conclusão, que apenas nos serviu como um processo de aprendizagem, não serviu para rigorosamente mais nada, porque apesar de dizerem que se trata de promoção de bandas, na realidade, isso raramente traz alguma mais valia para as bandas vencedoras. Na altura ficámos muito contentes, tínhamos conseguido o primeiro lugar, ganhámos uma gravação de um EP com quatro temas, uma entrevista no programa Ultra Sons da SIC Radical, uma sessão com um fotógrafo XPTO e a oportunidade de tocarmos ao vivo nas festas do Seixal com os Blind Zero. No entanto, acabámos por recusar todos os prémios. E porquê? Existiam várias condicionantes que não nos agradavam, que não nos davam margem para garantir a qualidade que pretendíamos para o produto final. Quer dizer, aquilo bem espremido não dava nada… Andámos durante cerca de um ano em concursos, e chegámos à conclusão que não valia a pena. Foi bom para ir melhorando os nossos espectáculos mas já percebemos o que tinham para nos oferecer.

A experiência não foi muito satisfatória….

Pois não, e foi a partir daí que decidimos começar a marcar nós próprios as nossas coisas, mas deparámo-nos com uma grande dificuldade em marcar concertos ou porque os locais não te dão dinheiro nenhum, ou porque só lá chegas se fores agenciado. Depois tivemos também um problema de saúde do baterista, que felizmente agora já está resolvido. Estivemos parados algum tempo por causa disso mesmo, mas aproveitámos para trabalhar num CD novo, que já temos mais ou menos alinhavado e pensamos começar a gravá-lo no Verão. Ainda sobre os concertos, estamos também a trabalhar em conjunto com a FNAC e brevemente vamos começar a tocar por todo o país. O que temos planeado para os próximos tempos, é dar alguns concertos e no Verão entrar em estúdio para gravar o novo CD, com calma, sem pressas, e sai para o mercado quando tiver que sair. Tem é que estar ao nosso gosto.

Como tem sido a reacção das pessoas às vossas músicas, ao vosso som?

A reacção tem sido bastante positiva. No geral as pessoas dizem que o CD está muito bom, mas que ainda gostam mais das músicas ao vivo, porque têm mais alma e porque acabamos por interpretá-las de uma outra forma. Tem sido bastante positivo e é bom sentirmos isso.

A net tem assumido um papel importante na divulgação das bandas. Qual é a tua opinião em relação a isso?

Há uns anos atrás era complicado num sentido que era: gravavas uma k7, e se o conseguisses fazer eras um herói. Depois para a enviar para quem quer que fosse, tinha de ser por carta, o que demorava bastante tempo. Hoje em dia, em questão de segundos chegas ao Japão, Austrália, a qualquer ponto do globo. Isso só te traz vantagens, e elimina muito tempo e dinheiro que gastavas. Por outro lado, hoje em dia o mercado está muito mais exigente. Agora ter um CD gravado já não chega. Em conclusão, a minha opinião é que traz mais vantagens, até porque se não fosse a internet não teríamos tido o destaque que tivemos na revista Canadiana, não tínhamos chegado à editora Australiana, à editora Inglesa... Depois temos casos curiosos como este que me marcou, que é de uma rapariga da Jugoslávia a quem eu enviei as músicas e pedi para que ela as partilhasse com os amigos. O certo é que ela partilhou e uns dias depois um rapaz da Alemanha adicionou-me no messenger, disse que era amigo da Tina da Jugoslávia, e que ela lhe tinha enviado as nossas músicas e que tinha gostado muito do som. É sem dúvida uma grande vantagem. Agora, as editoras é que ainda não sabem lidar muito bem com isto, e as vendas físicas de CD's baixaram muito nos últimos anos, devido à pirataria e partilha entre as pessoas, e as editoras ainda não souberam “solucionar” isso. Depois há o caso mais recente dos Radiohead que vieram dar um grande estalo na forma de venda de CD's como nós sempre a conhecemos. O David Bowie há dez anos atrás já dizia que as bandas conseguiam sobreviver com o que vendiam ao vivo, o merchandising, os CD's, porque ao vivo é diferente. Eu acredito nisso.

O que querem transmitir com as vossas músicas?

Para já, nós queremos transmitir às pessoas aquilo que nós sentimos quando ouvimos música. A música consegue mexer com as pessoas, e nós queremos que a música que nós fazemos chegue às pessoas, que mexa com as pessoas da mesma forma que a música dos nossos ídolos mexe connosco. Isso é aquilo que tentamos fazer. No entanto, muitas vezes perguntam-nos se temos preocupação se as pessoas vão gostar ao não. É assim, nós fazemos aquilo que gostamos e nos apetece fazer, até porque nós todos trabalhamos para manter este vício de luxo (risos) Mas, se nós temos que pagar tudo e se somos nós que lutamos pelos UMEED, também convém que façamos isto à nossa maneira, mas, como é óbvio, gostamos de saber sempre o feedback das pessoas. E até estamos a pensar em breve, com as novas músicas, fazer uma coisa interactiva: vamos disponibilizar os rascunhos das novas músicas para a base de dados de amigos que temos, para eles darem opinião acerca desses rascunhos antes de gravarmos o CD em estúdio. Portanto, nós estamos receptivos à opinião das pessoas.

Photo3 by José AlfredoEm “Hustle & Bustle”, vocês juntavam imagem (pinturas) às vossas músicas. Vão continuar a fazer essa junção?

Nós agora estamos a alargar isso. Em termos artísticos a música é uma das vertentes, mas tens muitas outras coisas que te podem ajudar a complementar ou a transmitir a mensagem que queres passar. Então com o “Hustle & Bustle” decidimos que cada música devia ser retratada com uma imagem, uma fotografia ou uma pintura, fosse o que fosse. Entretanto, eu tinha um amigo meu, Engenheiro do Ambiente que tirou o curso, em Vila Real, apenas para fazer a vontade aos pais, mas assim que acabou o curso, continuou a dedicar-se à pintura que é aquilo que ele gosta de fazer. Então um dia, ele foi a Vila Real e como eu trabalho lá ele ficou em minha casa a dormir., e eu perguntei-lhe: “Então Miguel, que é que tens andado a fazer?”. Ele disse-me que andava a fazer exposições… Eu pensei que estavam relacionadas com a engenharia do ambiente, e ele disse que fazia exposições de pintura. Fiquei admirado, porque nessa altura não sabia que ele pintava. Ele mostrou-me umas fotografias de alguns quadros, dos quais eu gostei bastante. Então falei com todos os elementos dos UMEED e decidimos propor-lhe o seguinte trabalho, que era: ele ouvia cada um dos temas, lia as letras, interpretava à maneira dele cada um dos temas e representava-os numa tela. Ele aceitou, pintou algumas ideias, nós gostámos e escolhemos um quadro para representar cada uma das nossas músicas, e por isso é que o nosso site é uma pequena galeria de arte, onde tens uma parede com quadros. Em cada quadro, se clicares, tens acesso à letra da música, porque cada quadro representa uma música. Achamos que foi uma componente gráfica que trouxe algo de interessante ao projecto. Neste momento estamos com duas parcerias novas, que estamos a desenvolver para muito breve, já para aparecerem no novo CD. Estamos a trabalhar com duas estilistas de Paços de Ferreira e a desenvolver uma linha de roupa, que não posso dizer ainda o nome já que ainda é segredo, e onde nós vamos ser as cobaias, ou seja, nós vamos vestir as roupas que elas estão a desenvolver. Ao mesmo tempo, temos um contacto já feito com uma pessoa de bodypainting, para fazer umas coisas subtis, umas coisas engraçadas a nível de imagem. Temos então essas duas novas parcerias, e vamos continuar, no novo CD, com o trabalho gráfico, embora ainda não tenhamos decidido se vai ser ao nível da pintura, desenho, ou o que vai ser, mas vai ter uma componente de imagem como a que temos neste momento. Ou seja, nós queremos que a banda seja associada a mais do que uma coisa. Inclusivamente nós fizemos uma coisa engraçada em Viseu, no Museu Grão Vasco. Fomos convidados em 2006 para fazer um concerto, numa semana que tinha como tema “O museu e os jovens”, nos claustros do Museu. Na altura pensámos: estes tipos agora é que se passaram mesmo. Era estranho imaginar um concerto rock num museu, mas por acharmos que era um conceito estranho, decidimos criar algo engraçado. Como já estávamos a trabalhar com o Miguel Oliveira, o pintor, decidimos fazer o concerto com uma exposição de pintura ao mesmo tempo. E foi algo que correu muito bem, porque estávamos a dar o concerto e dizíamos que a música que estávamos a tocar estava representada em determinada tela, dávamos uma pequena explicação e acabou por ser muito engraçado. E por acharmos piada a isso, decidimos então alargar as coisas a outras formas de arte. E estamos abertos a novas parcerias…

Que achas do actual panorama musical português?

Tem aparecido muita coisa com piada. Gosto muito, por exemplo, de Mazgani, Linda Martini, há uma série de projectos novos com os quais eu me identifico e que acho que têm bastante piada, e que inclusivamente estão a conseguir coisas fora do país. Temos os Wraygunn que tocam muito em França, temos os Fonzie que começaram fora e vêm de vez em quando tocar por cá. Acho que há projectos muito interessantes.

E em relação ao estado geral do país?

Em relação ao estado geral do país é assim: estamos tesos, não temos dinheiro. E portanto, o pessoal tem que continuar a lutar com alegria (risos).

A nível de concertos, achas que existem em quantindade suficiente?

Está a começar a haver até demais. Por exemplo festivais, até se “abafam” uns aos outros.

Sim, mas achas que existem locais para uma banda como os UMEED se mostrarem ao vivo?

Começa a haver muitos locais e as pessoas estão a aderir. Agora as agências que estão a negociar isso têm de ser inteligentes. O nosso agente tem um conceito diferente do normal, não propõe apenas um espectáculo musical, mas uma série de outras coisas. As próprias pessoas que estão a gerir os locais com música ao vivo, não querem só ter uma banda a tocar, porque isso acontece também ao lado, tem de haver algo especial. Se calhar há 5 anos atrás tínhamos um circuito mais fechado para as bandas alternativas e independentes e actualmente começamos a ver espaços e interesse para receber as bandas. Agora é uma questão de as bandas se mexerem, porque a concorrência é muito grande.

E em Viseu, como estão as coisas a esse nível?

Viseu é uma bela cidade mas oferece pouco a bandas como os UMEED. Se estiveres em Lisboa, vais aos locais, conheces mais gente e chegas mais depressa às coisas.

Photo5 by José Alfredo E agora, quais os próximos passos dos UMEED?

Se tudo correr bem, vamos estar em Inglaterra no Verão, mas o objectivo principal, nesta fase, é tocar por cá. Depois, calmamente, pretendemos amadurecer as ideias que temos para o nosso CD, que já tem nome mas não te vou dizer (risos), mas para ficares curioso o nome é bastante engraçado… Queremos gravar o CD, lançá-lo cá para fora, e continuar a tocar até aos 100 anos, altura em que nos dedicaremos à música ambiente… (risos)

Uma última pergunta: qual a tua personagem de banda desenhada preferida?

Não tenho personagem preferida, desculpa lá desiludir-te, mas por acaso não tenho. Frustrei as tuas expectativas, eu senti... (risos)

Curiosidades:

Porquê o nome UMEED?

UMEED veio de um livro do Salmon Rushdie que se chama “O Chão que ela pisa”, que o nosso baterista leu e gostou bastante, porque tinha lá uma parte a falar dos músicos, das sinfonias e porque é que as pessoas vibram tanto com a música. Algures no livro tinha uma frase, que o baterista me disse e eu não me esqueci, que dizia: “A música mostra-nos aquilo que poderíamos ser, se fossemos dignos deste mundo”, O livro fala sobre a Índia e a religião, e tinha uma palavra que é utilizada na Índia, que é a palavra UMEED, que não existe em inglês e nem sei como se pronuncia na Índia. UMEED significa esperança, está ligada à religião. Nós achamos piada ao nome, por ser uma palavra pequenina e sonante.

Influências?

Independentemente do estilo, eu gosto que a música soe bem e me faça arrepiar. Mas assim, referências de bandas, comuns aos elementos dos UMEED, posso citar Radiohead, Muse, Placebo, Massive Attack, Dave Matthews band.

Bandas nacionais que tens ouvido?

Há muitos anos que gosto de Mão Morta. Bandas recentes, já te referi algumas…

Fotos por: Zé Loureiro e Hugo Marques (primeira foto) e José Alfredo (restantes).

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