segunda-feira, 24 de março de 2008

Na Grafonola do Marsupilami | Dogma

Os Dogma chegam-nos da cidade do Porto, e como eles uma enorme paixão, primeiro pela música, depois pelo rock. E é essa mesma paixão, o motor que faz mover os Dogma, e que se transforma depois em desejo em levar a música que fazem ao maior número de pessoas possível. O Marsupilami foi até ao Porto, e mais uma vez, num famoso café da cidade, esteve à conversa com eles. Essa conversa, despreconceituosa e sincera, segue duas linhas abaixo...

Antes de mais, obrigado aos Dogma, por aceitarem responder a algumas perguntas que vos queria fazer.

 OLYMPUS DIGITAL CAMERA         Quem são os Dogma?

Bruno Salgado [BS], bateria. Miguas [M], guitarra. Rodrigo Barbosa [RB], voz. Pedro Guedes [PG], baixo.

Quando e como é que tudo começou?

RB – Tudo começou acerca de um ano, ou seja em Fevereiro de 2007. Nós tivemos um primeiro ensaio, uma jam session em Dezembro de 2006, gostamos e quisemos continuar de uma forma mais séria, e em Fevereiro começamos então, com mais intensidade.

Na altura havia algum objectivo em especial?

RB – Quando começamos a ideia era ver como é que funcionávamos os quatro. Com o decorrer das coisas, começou-se a criar uma energia entre nós enquanto banda, e a certa altura tornou-se completamento no nosso segundo trabalho, e algo que nós levamos bastante a sério.

Os Dogma têm uma demo gravada e vários concertos nas pernas. Como é que tem sido a reacção das pessoas ao vosso som?

RB – Eu acho que as coisas, à nossa escala, têm corrido bastante bem, porque ao fim de 4/5 meses, que é um período muito pequeno, estávamos a gravar a nossa demo, para aquilo que era o nosso intento, ou seja, ter uma forma de apresentar a banda, quer às pessoas no geral, quer a locais onde pretendíamos tocar. O impacto foi muito bom, sem dúvida, até porque temos tido bastantes concertos. Mesmo a nível de resultado final, acho que aquela nossa primeira demo, com apenas 4/5 meses de existência, demonstra pelo menos para nós e temos tido também esse feedback, que temos todo o potencial e se continuarmos a trabalhar, para fazer coisas bonitas.

O que querem transmitir com o vosso som, as vossas músicas?

RB – O que nós queremos transmitir é uma ideia que neste momento, e pelo menos em Portugal, não está muita acesa, que é a ideia do rock. Eu sinto que há várias bandas a fazerem rock, algumas a fazerem bom rock, mas em termos de chegar às pessoas não vejo muitas bandas rock em Portugal a sair da “toca”, digamos assim. E, o nosso objectivo é fazer os possíveis para conseguir com esta sonoridade chegar ao maior número de pessoas possível.

Por falar em rock, é assim que auto identificam o vosso som?

RB – Eu acho que nós, não falo por todos mas pela maioria de nós, temos um bocado a escola do rock do início dos anos 90. Embora não seja a nossa única fonte, obviamente, é a fonte mais comum entre todos nós, um bocadinho menos ao Pedro se calhar, mas nós os três [Rodrigo, Bruno e Miguas], ouvimos muito coisas como Alice In Chains, Guns N' Roses, Soundgarden, por aí. Entretanto surgiram coisas novas que também nos interessam, como Bloc Party, Franz Ferdinand, Muse... Não somos aquele tipo de banda que te vai falar em bandas super desconhecidas, e que ouvimos isto ou aquilo que ninguém conhece, não, nós andamos um bocado a apanhar esse tipo de rock mais clássico, se lhe quiseres chamar assim. Neste momento, acho que acabamos por reflectir um pouco esse tipo de sonoridade embora o facto de cantarmos em português torne as coisas um pouco diferentes, mas é com esse tipo de rock que nos identificamos e pretendemos dar seguimento.

Vocês cantam em português. Acham que poderá ser uma vantagem, pelo menos no nosso país, ou não?

RB – Sob o ponto de vista comercial, não faço ideia se tem vantagem ou não. Eu comecei a cantar em português há dois/três anos, eu e o Miguas já tocávamos juntos e ele gostou de me ouvir fazer uma versão em português e a partir desse momento decidimos cantar em português. A verdade é que a partir daí, senti-me muito mais confortável a cantar e a escrever directamente aquilo que penso em português, do que estar a pensar numa ideia e traduzi-la noutra língua. Nesse sentido torna-se mais fácil para mim.

PG – As minhas dúvidas acabaram a partir do momento em que o ouvi a cantar e a ler o que ele escrevia. Eu tinha algumas reticências e, de certa forma, não estava preparado na altura, mas agora não trocava. Agora acho que acabamos por ter mais poder em cantar em português, para portugueses, do que cantar em inglês.

BS – Acho que a grande dificuldade é pôr a nossa língua com alguma musicalidade. Os brasileiros conseguem muito bem, mas nós temos mais dificuldade em conseguir que as coisas não soem “piroso”.

M – “Piroso” tem um bocado a haver com a língua em si. Uma pessoa está às vezes a ouvir uma música em inglês, e como a nossa língua materna é o português, nós não damos metade do significado às palavras que um inglês dará. Eu falo por mim, mas acho que grande parte dos portugueses pensa assim…

BS – Nós quando começamos eu também tinha algumas reservas quando se falou em cantar em português, mas acho que conseguimos acrescentar muito mais à música a cantar em português, não só por ser a nossa língua materna, mas porque para mim, para nós, soa bem.

RB – Outra coisa, já agora, eu sinto que tenho muito mais abertura para fazer uma coisa diferente em português do que em inglês. Primeiro, porque em inglês, obviamente sei falar em inglês, mas tenho mais limitações, porque já tenho tanta coisa na cabeça em inglês, o “cry” o “dry”, coisas que rimam e que já ouvi em tantas músicas diferentes, e se for cantar em português, embora tenha mais dificuldades porque não tenho tantas bases, tenho mais por onde explorar porque ainda há muita coisa que ainda não foi feita em português, e isso é mais desafiante e motivador para mim.

OLYMPUS DIGITAL CAMERA         Qual é a vossa opinião em relação à net vs música que se vive hoje em dia? Poderá ajudar, ou prejudicar mais uma banda como os Dogma?

M – É uma faca de dois gumes. Basicamente o que acontece é o seguinte: antigamente o mercado funcionava baseado numa entidade que eram as editoras, que se responsabilizavam por promover, distribuir, mas para cada banda/artista sobrava uma fatia muito pequena e o preço final era bastante elevado. Neste momento o que é que está a acontecer? Essa entidade [editoras] está a ser ultrapassada, porque o mercado começou a revoltar-se contra isso. Também se criaram as condições a nível de tecnologia, e temos casos de sucesso como é o caso dos Radiohead, que é uma banda enorme e que funcionou muito bem. No entanto, para quem está a começar agora, tem todas as tecnologias para se divulgar, mas não tem a força de uma entidade como uma editora, para dar o “empurrão”. De qualquer maneira é um instrumento fantástico de divulgação que antes não existia, mas acho que ainda estamos numa fase ainda muito indefinida…

Mas acham possível editar o vosso futuro EP, totalmente gratuito via net?

BS – Nós iremos disponibilizar tudo na internet para as pessoas, mas, e na minha opinião, só isso não chega. A nossa dificuldade é chegar ao maior número de pessoas possível. Há um salto que tem que ser dado que sozinhos é difícil, não digo que seja impossível porque ainda não tentamos, mas parece-nos difícil.

PG – Sobretudo porque a música vive de lobbys, como sabes, e ninguém nos conhece. Portanto, para dar o salto não chega só colocar as coisas de graça na Internet, no nosso entender.

BS – Precisamos de conseguir mostrar a nossa música às pessoas, porque nós acreditamos nela e achamos que temos mercado. Não nos consideramos um grupo para um nicho restrito, agora é preciso fazer chegar as músicas às pessoas, é preciso ter as músicas a passar na rádio, é preciso tocar em locais com muita visibilidade, e isto sozinhos é complicado.

Acham, que existem locais suficientes, quer em qualidade quer em quantidade para uma banda como os Dogma se apresentarem ao vivo?

M – Isso é sempre complicado responder, porque por exemplo enquanto que nos Estados unidos o nicho de mercado é de dez/vinte mil, cá é de 500 pessoas...

BS – Eu acho que “ainda” há muito o preconceito em Portugal pela música portuguesa. No outro dia estávamos num bar de amigos, e chegou lá um amigo nosso e perguntou quando é que nós tocávamos, eu disse-lhe quando tocávamos e ele disse: “Eu não vejo música portuguesa!”. Eu já fui um pouco assim também, mas com o aparecimento de grupos bons, as coisas têm melhorado, e também acho que começamos a ser um bocado mais nacionalistas, se calhar até com esta coisa do futebol, começamos a dar um bocado mais de valor ao que se faz por cá.

RB – Também acho que aquela questão legislativa em que as rádios são obrigadas a passar uma determinada cota de música portuguesa é muito bom, e nesse campo a Antena 3 fez um trabalho muito bom com o programa “Quinta dos Portugueses”, que era só música portuguesa. Acho que houve aí uma evolução. Depois houve bandas que conseguiram sozinhos dar o salto, um exemplo disso são os Gift. Acho que tem havido vários sinais que demonstra que estamos mais nacionalistas e a apostar mais na nossa música.

Que acham do actual panorama musical português?

BS – Muito sinceramente, não acho que seja bom. Acho que cada vez mais vivemos na geração “Morangos Com Açúcar”, ou seja, os fenómenos montam-se, montam-se as bandas, alguém compõem e agora o público vai comer com isto durante dois aninhos, e daqui a dois aninhos faz-se um concerto de despedida, acaba e a gente monta outra coisa. Dá-se muito valor à imagem, mais do que à própria música, quando antes acho que era o contrário. Por exemplo, nos anos 80, as pessoas gostavam da música, e olhavam para os “seus ídolos de rock” e gostavam daquela imagem... Agora as coisas não são naturais, e parece que agora não se dá tanto valor à música.

PG – Eu acho que depois se apostam em bandas que já estão no meio, dão segundas oportunidades. Um caso disso, e falo por mim, são os Ez Special. Os Ez Special já foram os Ez Special, agora são os Ez Special 2? Eles já estavam no meio, porque é que eles não apostaram numa banda nova? Eu falo “deles”, e nem sei bem quem são “eles”, mas porque não apostam em bandas novas?

BS – Nós com isto não queremos ser corrosivos com outras bandas, não se trata disso, trata-se mais em criticar o meio. Por exemplo, no outro dia estava em casa a ver tv e passou uma música do FF, que é um miúdo dos “Morangos Com Açúcar”. É assim, eu olhei para o FF e achei aquilo ridículo, mas o que é certo, é que olhei à volta e os músicos que estavam a tocar com ele eram excelentes, eram músicos muito bons mesmo. Ou seja, é tudo montado, compõem umas musiquinhas, pegam naquele personagem e toma, agora vais cantar isto, arranjam um grupo fantástico, com músicos de excelência, e aquilo funciona. Acho que caímos sempre muito no mesmo tipo de música... Acho que falta um pouco de genuinidade. E não é por falta de qualidade, porque temos visto bandas muito boas, agora falta conseguirem dar aquele salto.

E sobre o actual estado do país, no geral?

BS – Eu não me considero um português da maneira como olho para o nosso país, porquê? Porque um português, geralmente, diz que está tudo mal. Eu não acho que esteja tudo mal. Há muita coisa que está mal, mas acho também que somos um país que acorda tarde. Ou seja, nós tivemos uma ditadura, mas por exemplo em Espanha também aconteceu o mesmo, mas eles acordam mais cedo.

PG – E sobretudo porque é sempre mais fácil dizer que está tudo mal, que dizer que está bem…

BS – Mas acho que evoluímos já em muita coisa. Por exemplo, a nível de civismo, há 10 anos atrás era normal ver uma pessoa a atirar lixo pela janela do carro. Era normalíssimo, nós não estranhávamos. Hoje em dia, e mesmo nas classes com nível inferior de educação, já se nota uma certa preocupação. É uma coisa pequena, mas onde se nota já uma certa evolução, na maneira das pessoas estarem. No entanto, temos é os problemas que em todos os países existem, que é: dá-se muito valor ao negócio, ao dinheiro. E fazendo agora um pouco de “publicidade”, porque gosto muito de Trás-os-Montes e tenho família lá, e, por exemplo, vão estragar o nosso único rio selvagem para colocar lá uma barragem. Temos várias barragens no nosso país, montes de sítios para fazer uma barragem, mas não, vão estragar o único rio selvagem que nós temos, com uma porcaria de barragem que não vai servir a ninguém. Agora, Câmaras Municipais, autarcas, e povo da região, como gera dinheiro, querem a barragem! Aí é que as coisas estão mal!

OLYMPUS DIGITAL CAMERA         Quais os próximos passos dos Dogma?

PG – Estamos a gravar o EP. Concretamente, já foram gravadas as baterias e baixos, neste momento o Miguas está a gravar guitarras e o Rodrigo está a gravar vozes, portanto, ainda este mês contamos ter o EP nas mãos, se tudo correr bem.

RB – Depois, e a nível da divulgação do EP, é, e como já percebeste pela conversa, uma coisa que tem de ser muito bem pensada, e estamos numa fase de pesquisa, a ver quais são, eventualmente, as editoras/promotoras/agências que poderão de ir ao encontro àquilo que pretendemos, que como já dissemos é chegar ao maior número de pessoas possível.

Uma última pergunta: qual é a vossa personagem de banda desenhada preferida?

PG – João Bafo de Onça.

BS – A minha é o Peninha. (risos) É o Peninha e o Calvin, mas o Peninha marcou-me mais.

PG – Por acaso, entre o João Bafo de Onça e o Cartman, não sei, mas é o Cartman.

RB – Os Simpsons, claramente.

PG – O Miguas, se houvesse em banda desenhada, eram os Monty Phyton.

M – Nem mais…

Curiosidades:

Porquê e como surgiu o nome Dogma?

RB – Nós andamos bastante tempo a ver qual seria o nome com o qual nos identificássemos. O nome foi sugerido pelo Miguas, e sem grande explicação, talvez devido à fonética da palavra, aderimos de imediato a esse nome, embora na altura não tivesse nada a haver directamente com o significado da própria palavra. É curioso porque depois as coisas aconteceram de uma forma inconsciente, porque as coisas começaram a ver no que isto dava, e a certa altura tornou-se “quase obrigatório” fazer música, dar concertos, tocar, e nesse sentido acho que a palavra ou o nome, começou acabou por fazer todo o sentido, também a nível de semântica.

Influências?

PG – Eu tenho gostos musicais muito ecléticos, que passam por vários estilos musicais. Mas a banda que me marcou imenso, foram os Red Hot Chilli Peppers, não os RHCP de 99, mas mais para trás. Eu cresci a ouvir “Sex Magik…”, um álbum arriscado, é sem dúvida a minha grande influência. Mas também adoro Dave Mathews Band e ultimamente ouço muito Artic Monkeys.

M – A primeira banda que me fez pegar numa guitarra e fazer música, foram os Guns N’ Roses, sem dúvida.

BS – Eu dentro do rock, é claramente o início dos anos 90, e bandas como: Alice In Chains, Stone Temple Pilots, Soundgarden, Fatih No More, etc. Dentro do pop, o artista, e que costumam gozar comigo (risos) mas que eu adoro, é o Bruce Springsteen, que tem coisas muito boas. Tenho muitos álbuns dele, e “Born To Run” para mim, é o melhor disco de sempre.

RB – As minhas bandas, são: Alice In Chains, Pearl Jam, Radiohead, Smashing Pumpkins. Ultimamente, Franz Ferdinands, Killers…

Bandas nacionais que têm ouvido?

PG – Zen, adoro Zen. Para mim é aquele caso típico, que nasceram à hora errada, no sítio errado, porque se fossem, por exemplo, americanos eram uma banda grande!

RB – Portugueses, uma banda muito boa, quer a nível de concertos, quer a nível de discos, são os Clã. Raízes: Rui Veloso, Pedro Abrunhosa, especialmente “Viagens”…

BS – O primeiro álbum português que não parava de ouvir, foi o “…” Mais bandas, uma banda que gosto muito são os Comic City Blues. Há um tempo atrás fui ver um concerto deles e adorei, e acabei por comprar o disco.

Myspace dos Dogma

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